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Como a eleição de Lula vai afetar o agronegócio brasileiro?
Updated: Nov 3, 2022
Mercado agrícola, dólar e bolsas internacionais tiveram forte reação com o resultado das eleições

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, pela terceira vez, como presidente do Brasil. As eleições de 2022 foram as mais disputadas da história e, ao contrário das disputas de 2002 e 2006, Lula enfrentou um país bem dividido e teve uma vitória bastante apertada, com pouco mais de 60 milhões de votos, 2 milhões a mais que o presidente atual, Jair Bolsonaro.
Os impactos dessa histórica eleição no mercado do agronegócio, nas bolsas internacionais, além das perspectivas para os próximos anos, foram tema de mais um Papo de Agro, que contou com a participação de Carla Mendes, editora-chefe do Notícias Agrícolas, e Ronaldo Fernandes, diretor da consultoria Royal Rural.
Impactos da eleição de Lula no agronegócio brasileiro
Para Carla Mendes, o fato da maior parte dos estados brasileiros onde o agro é predominante ter votado em Bolsonaro é um claro sinal do apoio do setor ao atual presidente. “O agro se frustrou com o resultado das eleições. Há, sim, muitos apoiadores e simpatizantes de Lula no meio agro, mas sabemos que não é a maioria. O produtor rural agora está na busca por entendimento de tudo o que está acontecendo”, pontuou.
A manifestação liderada pelos caminhoneiros também foi um assunto importante e que gerou ainda mais volatilidade no mercado. Um dia após as eleições, mais de 100 pontos de protestos foram identificados pelo Brasil, que começaram a crescer pouco a pouco. Para Ronaldo Fernandes, a revolta dos apoiadores de Bolsonaro é compreensível, mas deve haver um equilíbrio e cuidado nos excessos. “Foi uma campanha muito difícil para ele, é compreensível que ele tenha ficado em silêncio por mais tempo que o esperado, mas, de fato, essa situação das manifestações, ao meu ver, está se transformando em um excesso dos apoiadores do presidente, e isso poderá prejudicá-lo ainda mais”.
Mercado de grãos e previsões para o dólar
Os estoques de grãos bastante apertados neste fim de ano vão depender de uma próxima safra mais robusta para dar equilíbrio ao mercado. Porém, para Carla Mendes, a principal preocupação do momento é com o mercado cambial. “Na hora que o produtor for vender a produção, ele pode vender por uma taxa menor do que a que ele usou para comprar os seus insumos e isso sim pode gerar um problema”, explicou.
“O mês de novembro também costuma ser um mês estratégico e de resultado de exportações, por exemplo. Temos que aguardar para apresentar soluções ou conclusões concretas do mercado”, salientou Ronaldo.
Perspectivas para as próximas semanas com a eleição de Lula
“Lula está em uma nova fase política, onde terá que encarar um Congresso e Senado bastante alinhado a Bolsonaro, não será tão fácil governar com esse cenário”, lembra Ronaldo.
Carla Mendes pontua também que, no primeiro discurso após a vitória, Lula já fez uma sinalização para o agronegócio brasileiro. “Mesmo após críticas ao agro durante a campanha, Lula disse que vai olhar pelo agro, pelos pequenos e médios produtores, pela agricultura familiar. Resta saber se isso será concretizado, ou se essas propostas ficarão apenas no discurso”.
“É importante destacar que o cenário atual, de tanta instabilidade e incerteza, não é uma tendência. Temos uma série de fatores a serem analisados e aguardar pelo menos duas semanas, para dar uma declaração mais concreta sobre o comportamento do mercado agrícola e das bolsas. Temos ainda a questão da guerra Rússia x Ucrânia, que também está impactando as bolsas globais e que precisamos ficar de olho”, finalizou Ronaldo Fernandes.