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Conheça a história de um pecuarista que está quebrando tabus!
Júlio Almeida Mazzo administra uma fazenda no norte do Brasil e lida com a sexualidade de forma aberta no meio rural

Foi na pequena cidade de Guajara Mirim, interior de Rondônia, que o chefe de cozinha Júlio Almeida Mazzo, de 38 anos, se reencontrou com suas origens no campo. O produtor rural trabalha com gado de corte e pureza de raça (PO) na fazenda da família, de propriedade do pai.
Gastronomia - Apesar de ter sido criado no meio rural e ser de uma família do ramo Agro, Júlio decidiu seguir o seu sonho na gastronomia e saiu de Rondônia para estudar em Londrina, no Paraná, onde morou por 5 anos. A motivação para cursar culinária veio da vontade de oferecer mais qualidade de vida para a avó materna, dona Marina, também conhecida como “Voina”. Julio lembra da avó como uma pessoa presente e amorosa. Infelizmente, dona Marina enfrentava problemas cardíacos e faleceu em 2016, aos 76 anos. “Superamos até o pavor dela de avião e viajamos juntos. Infelizmente, eu perdi ela para o H1N1”, lembra.

Pecuária - Após a perda da avó, tudo muda no caminho do chefe de cozinha quando seu pai, Miguel Neto, é diagnosticado com câncer no pulmão, o levando de volta para Guajara Mirim. Sobre o pai, Julio comenta algumas dificuldades na relação, sendo motivadas por pequenos conflitos de trabalho e por “piadas” contra sua homossexualidade. “Meus pais são do tipo desses que acham que preconceito é questão de opinião, então sempre temos conflitos”, disse o pecuarista.
“Eu sempre digo em casa: seja preto para falar de racismo. Seja gay para falar sobre homofobia. Ter o lugar de voz não é para qualquer um”
Respeito - Não só no âmbito familiar que Julio teve que lidar com “piadinhas” quanto à sua homossexualidade. No trabalho em campo, o chefe de cozinha já chamou os funcionários para conversar após ouvir comentários ignorantes sobre sua opção sexual. “Não tem problema as pessoas terem dúvidas sobre a sexualidade das outras, mas isso não diz respeito a ninguém. No entanto, eu não ligo de falar: sim, sou gay!”, disse Júlio. Ainda sobre essa relação com seus funcionários, Julio diz que tenta conscientizar os peões quanto ao respeito à diversidade. “Nos grandes centros já se enxerga que não é legal certos tipos de comentários ou piadas. Tento educar meus colaboradores de forma sutil e bem humorada”, explica.

Futuro - Sobre uma possível volta à culinária, Júlio disse que, infelizmente, não tem como, porque a cozinha e a fazenda exigem período integral. O cuidado com o pai e a rentabilidade da propriedade são os principais motivos para Julio “fincar” os pés no campo. “Sempre gostei de conhecer o meu produtor para fazer e manipular alimentos. Hoje, eu acompanho o crescimento e a manipulação da carne viva”, disse com orgulho.
